quarta-feira, 25 de maio de 2011

Maria Lourenço e os Ventos de Mudança


Como desportista profissional, foi fácil conciliar os treinos com o estudo?
Desportista profissional?! Não, nunca fui! Só seria atleta profissional se tivesse meios para viver do desporto e nunca tive. Nunca é fácil conciliar duas coisas que nos ocupam bastante tempos mas com força de vontade e dedicação, acredito que é possível. Nunca tive de faltar a nenhum campeonato porque tinha um teste, ou nunca deixei de surfar porque tinha um trabalho. Porém, o cansaço que acumulava era enorme para conseguir fazer as duas coisas em simultâneo.

Ainda no secundário fizeste a tua primeira troca. Mudaste de agrupamento. Porquê? Houveram dificuldades acrescidas?
Quando mudei de agrupamento no secundário o motivo principal foi não ter nenhum interesse por Biologia e Geologia e Física e Química, no entanto, adorava Matemática. Como sempre me interessei por Economia, achei que iria gostar do agrupamento de Ciências Socio-Económicas. As dificuldades acrescidas foram algumas, pois eu não queria perder nenhum ano com esta transição. Então, resolvi fazer Economia A e Geografia A por exame. Os professores sempre me apoiaram, mas ir às aulas dos dois anos das disciplinas era tarefa impossível. Claro que com todo o apoio que me foi oferecido e ao dedicar-me um pouco mais do que os outros alunos que já se encontravam no agrupamento desde início, consegui concluir com sucesso as duas disciplinas.

Quando estavas a fazer a tua candidatura estavas segura das tuas escolhas?
Quando fiz a minha candidatura para o Ensino Superior, para além de não estar segura, naquele momento (pela primeira vez na vida) não me apetecia ir logo para um "novo ciclo" escolar. As minhas escolhas foram bastante cómicas (1.ª Economia - UNL; 2.ª Gestão - UNL; 3ª Economia - ISEG; 4ª Gestão - ISEG; 5.ª Economia - ISCTE; 6.ª Gestão - ISCTE). Não sabia ao certo o que queria, nem onde queria entrar, foi um processo complicado.

Entraste no curso que querias?
Na altura penso que não entrei no curso que queria, mas sim no curso que escolhi. Entrei na 1.ª opção (Economia na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa).

Como foi a tua adaptação a viver longe de casa, numa nova cidade? Foi fácil estabelecer novas rotinas?

Nem dei conta da adaptação, no meu primeiro semestre não tive tempo de me adaptar a nada. Faltei as 3 primeiras semanas para participar na Etapa do Circuito Mundial de Bodyboard no Brasil, voltei 2 semanas para Lisboa, depois fui para o Nacional Open em Sagres e faltei mais 5 dias, voltei para Lisboa 3 semanas e, por fim, fui 3 semanas para as Canárias participar no Circuito Mundial de Bodyboard. Concluindo fui 5 semanas às aulas (e sem serem consecutivas). Não tive tempo de haver adaptação, andava sempre a fazer e a desfazer malas, conhecia melhor o quarto do hotel das canárias do que o meu quarto em Lisboa, na faculdade dava-me bem com algumas pessoas mas não tinha grandes amizades, e todos os dias era diferentes. Por isso, rotinas não existiam!

Estavas contente com a tua escolha?
Penso que tive um "semestre" tão agitado e tão apressado, que nunca parei para pensar se estava a gostar. Só quando as aulas pararam para a época de exames é que comecei a achar que se calhar não estava bem e, naquele momento achei que era do curso.



Depois do primeiro semestre decidiste abandonar o curso para mudar de área de estudos no ano lectivo seguinte. Foi fácil tomar essa decisão? O que pesou mais para a fazeres?
Fácil tomar essa decisão? Claro que não! Nunca é fácil dizermos aos nossos pais, amigos, família que: "Bem entrei na minha primeira opção, deveria estar super feliz porque entrei na melhor faculdade de economia do país. No entanto, não estou!". O que pesou mais para eu abandonar o curso no primeiro semestre foi eu estar na faculdade por "estar", não sabia se era bem aquilo que queria fazer, não estava feliz, senti que não fazia sentido nenhum estar ali naquele momento.

Entretanto decidiste não mudar e continuar com o curso que tinhas iniciado este ano lectivo, porquê?
Tive uma lesão e apercebi-me que a vida dá muitas voltas e, nunca podemos dizer logo no início "Não gosto, não quero mais!". Depois de estar há 2 meses sem competir, sem poder surfar, sem poder fazer nada físico. Senti uma necessidade enorme de exercício mental e, agora sim, dei valor à escola (como sempre dei, excepto este ano). Pensei, pensei e pensei, e conclui que o problema de eu não ter "gostado" do curso, não foi do "curso" mas sim da forma como eu o encarei. Agora sinto imensa necessidade, da matemática, das aulas de economia, etc., etc.. Conclui que às vezes o que nós gostamos e achamos que queremos fazer, não passa de um hobbie e, o curso que eu queria mesmo exercer no futuro profissional era Economia.


Estas escolhas e mudanças para algumas pessoas são muito difíceis de fazer e envolvem muita ponderação. Como é que este percurso de mudanças foi para ti?
Foi um percurso longo e complicado. É necessário pensarmos bastante, não ligarmos "muito" ao que as pessoas nos tentam dizer, pois só nós sabemos o que estamos a sentir.

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